16 de abril de 2009

Martins aponta descaminhos da criança terceirizada

Ao longo da história e em diversas culturas, as crianças foram colocadas em posições extremamente desfavoráveis na escala social. Na Grécia Antiga, os pais tinham o direito de assassinar os filhos que nasciam com deficiência física. Aos sete anos, os meninos eram treinados e enviados para defender o exército espartano nos campos de batalha. Na França, os ideais da Revolução serviam apenas aos adultos. Os pequenos desvalidos eram colocados em carroças e transportados em condições desumanas para o interior do país.



Os que sobreviviam à viagem eram abandonados. Atualmente, as crianças seguem sendo vítimas de uma série de violências e descuidos. Por conta da necessidade de subsistência das famílias, por exemplo, pais e mães dispõem cada vez menos de tempo para conviver com seus filhos. A alternativa mais comum, nesse caso, tem sido entregá-los à guarda de parentes, vizinhos ou conhecidos, que nem sempre estão preparados para cumprir tal tarefa. Em outros termos, há uma tendência em curso de “terceirizar” as crianças.

Médico prega ampliação de licença-maternidade


Esses e outros temas relativos ao desenvolvimento na infância são tratados em profundidade no livro A Criança Terceirizada – Os descaminhos das relações familiares no mundo contemporâneo, a ser lançado no dia 14 de dezembro pelo médico pediatra e ex-reitor da Unicamp, José Martins Filho. A obra, dirigida ao público em geral, mas especialmente aos pais, faz uma reflexão sobre a realidade atual das crianças. Faz, ainda, uma provocação aos casais que têm ou pretendem ter filhos. “A pergunta que eu deixo para os leitores é: será que eles se prepararam ou estão se preparando adequadamente para essa missão?

Em outras palavras, será que antes da gravidez o homem e a mulher costumam se perguntar se querem mesmo ser pai e mãe e o quanto essa decisão vai interferir em suas vidas?”, indaga o autor. De acordo com o pediatra, os casais precisam ter claro que um filho é uma dádiva, mas que também dá muito trabalho. A maternidade e a paternidade requerem, entre outros quesitos, dedicação, noites em claro e o estabelecimento de uma estrutura mínima emocional, afetiva e material.

Martins Filho explica que o primeiro ano de vida da criança é extremamente importante no que se refere ao seu desenvolvimento físico e psíquico. “Tudo o que acontece nesse período tende a ter reflexo no restante da vida de uma pessoa”, afirma. Dessa forma, prossegue o ex-reitor da Unicamp, os cuidados por parte dos pais devem ser redobrados nessa etapa. A amamentação e o contato físico com a mãe, por exemplo, são fundamentais. Justamente por isso o pediatra se diz favorável à ampliação da licença-maternidade de quatro para seis meses, cujo projeto de lei está em discussão no Congresso Nacional. “Em alguns países nórdicos, esse tipo de licença é de dois anos. Nesse caso, os custos são arcados pelo governo e não pelas empresas. O interessante é que se a mulher precisar ou quiser voltar ao trabalho ao final do primeiro ano, o pai pode gozar o restante da licença no lugar dela, de modo a continuar prestando assistência integral ao filho”.

Embora reconheça que o modelo ainda está distante da realidade brasileira, Martins Filho considera que esse tipo de iniciativa deve ao menos ser discutida. Assim como deve ser debatida, em sua opinião, a conveniência de a mãe trabalhar apenas meio período nos primeiros anos de vida dos filhos. “É óbvio que isso traria impacto na renda familiar, mas os pais devem considerar essa hipótese. O que não pode continuar acontecendo é a entrega dos filhos para parentes, vizinhos ou babás que não estão preparados para cuidar adequadamente das crianças”, afirma. Além de tratar desses assuntos, o autor também faz um resgate da situação das crianças ao longo da história, como os episódios registrados no início deste texto. A mensagem final do livro talvez pudesse ser resumida na seguinte frase: mais do que falar sobre os direitos das crianças, o momento é de assegurá-los na prática, sob pena de nos arrependermos no futuro.

O livro A Criança Terceirizada – Os descaminhos das relações familiares no mundo contemporâneo será lançado no dia 14 de dezembro, em noite de autógrafos na Livraria Saraiva, no Shopping Iguatemi, em Campinas, a partir das 19h30. Também está previsto um bate-papo com o autor. O preço de capa sugerido é R$ 26,50. Outras informações podem ser obtidas no site da Editora Papirus, no endereço
www.papirus.com.br.

2 comentários:

Anônimo disse...

olá meu nome é wellington meu email é wellingtonthoia@hotmail.com tenho 19 anos, livro interessante DR., estava pensando a algum tempo sobre isso e encontrei um nome Criança terceirizada um belo nome, estava obeservando as crianças de hoje não tem criatividade, elas só sabem coisas que aprendem na tv e na escolas, na parte de minha familia as crianças passam dia inteiro na escola, depois rua, não vejo o pai brincando, conversando, quando conversar ou para criticar a criança exemplo você tirou nota ruim na escola, mais sequer ajuda a criança a fazer uma conta, ou para fazer um favor, exemplo vai lá buscar um guaraná, certo tempo vi uma prima minha de 7 anos abrançando o pai sabe o que mãe disse?
Para de fogo nessa piriquita a criança ficou envergonhada e sem graça, isso me deixou muito mal você nem imagina, uma ignorancia sem tamanho, essa criança é maravilhosa inteligente, esperta, algum tempo atras fiquei de ferias na casa de meus avôs e consegui fazer essa criança a ler em uma semana, estava lendo muitas palavras, aprendendo contas, onde eu cheguei com isso? Muita coisa eu aprendi com isso, o problemas estão no pais por falta de comunicação, afeto, e outras coisas importantes, as pessoas parecem estar hipnotizadas perdidas no tempo, não sabem como agir, estão depressivas, e entre outras coisas, criança não é complicado, complicado é o adulto que não entende a criança.

Simone de Carvalho disse...

Querido Dr. José Martins,

Parabéns pela entrevista no site da Abril. Maravilhosa, concisa e muito reflexiva, e já compartilhei no facebook.
Grande abraço,